quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ÁGUA QUE QUERO ÁGUA OU ÁGUA QUE CURA E QUE MATA!



MEDICINA COMPLEMENTAR EM FOCO

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Dr. José Raimundo Lindoso Campos *

O SPA DA VIDA: ÁGUA QUE CURA, ÁGUA QUE MATA

PARTE II

A estrutura molecular da água é a essência da vida”. - Albert Szent-Gyorgyi

No artigo anterior vimos que a água líquida assume, intracelularmente, muitas formas de organização (clusters), diante de substâncias estruturadoras (kosmotropas) ou desestruturadoras (caotropas) adquiridas do meio, ao longo da vida celular.

Para Lo e Huang, os “clusters” de água são parceiros ativos em reações químicas que ocorrem nos organismos vivos, criados pela interação de mínimas quantidades de substâncias orgânicas ou inorgânicas com a água. Ferramentas como o microscópio atômico, medidores de oscilações elétricas e de pH (acidez) de soluções muito diluídas apontam para a real existência dos “clusters” de água. A água está em estado constante de auto-ionização: H2O + H2O ßà H3O+ (hidrônio) + OH- (hidroxila)

As “pontes de hidrogênio” com força aleatória para mais ou para menos são necessárias no intracelular para: 1- estabilizar a conformação das hélices do DNA e do RNA permitindo manter a estrutura da molécula e a sua característica especial do enrolar e desenrolar das hélices; 2- manter a estrutura tridimensional das enzimas e das proteínas; 3- estabilizar a estrutura terciária das enzimas e das proteínas; 4- manter a hidratação das proteínas, ácidos nucléicos e macromoléculas; 5- estabilizar, manter e proteger a membrana citoplasmática e mitocondrial; 6- interferir no potencial de membrana citoplasmática e no potencial de membrana mitocondrial; 7- interferir na homeostasia dos poros da membrana citoplasmática; 8- interferir na velocidade das reações químicas intracelulares; 9- participar das reações de hidrólise; 10- veicular informações. Assim as “pontes” são fundamentais na fisiologia celular como solvente, soluto, hidratante, estabilizador de estruturas e veículo de informações para manter as células normais, cumprindo plenamente suas funções.

Um homem adulto (70 kg, massa magra normal e 12% de gordura) tem 65% de água (42 litros), distribuída assim: 3,5 litros no sangue (intravascular); 10,5 litros fora das células (intersticial); 28 litros dentro das células (intracelular). Somos um aquário ambulante! Mas, essas quantidades de água são maiores na criança (75% do peso) e menores no idoso (55%). Por isso, a desidratação é mais crítica na criança! E no idoso existirá, em longo prazo, comprometimento na saúde celular.

Apesar de tão alto volume de água corporal, em especial no intracelular, os médicos não pensam que a água está ali no citoplasma, no núcleo, nas mitocôndrias, hidratando íons, hidratando proteínas e ácidos nucléicos e fazendo parte das principais reações químicas que acontecem a cada segundo da vida celular. Intensivistas (médicos de UTI) e socorristas (médicos de Pronto-Socorro) se preocupam com a água do intravascular, sendo cautelosos e rápidos no diagnóstico da hipovolemia (diminuição do volume sanguíneo), repondo a água para impedir o “choque” e a “morte”. Entretanto, pensam na água como volume ocupando um espaço (intravascular) e a consideram como um “conteúdo” que deve preencher corretamente um “continente”. É a água mantendo a “pressão de perfusão” e salvando vida! Os pediatras (médicos de crianças) pensam na desidratação, na deficiência de água do intersticial, porém, também pensam na água como volume! Os cardiologistas (médicos do coração) e os nefrologistas (médicos dos rins) preocupados com a hiperhidratação (aumento de liquido no organismo) e a hipervolemia (aumento do volume do sangue) fazem de tudo para retirar do corpo o volume de água adequado. É a água na “quantidade certa” salvando vidas!

Os estudantes de Medicina aprendem a tratar das doenças pensando apenas nos “solutos” que são apenas 40% no organismo e não dão importância para a água, 60% do corpo: ambos são importantes. Os médicos sempre pensam na “água como volume”, isto é, como um conteúdo que deve preencher um determinado continente. Nunca pensam na água como “matéria, matrix e mãe da vida”! Nem como veículo de informações e como importante agente homeostático. Não aprenderam na Escola que os 3 elementos fundamentais da vida são: MATÉRIA - INFORMAÇÃO - ENERGIA. É o caráter anômalo da água que a faz a substância mais importante do nosso organismo. É a estrutura molecular da água a responsável pela vida, tal qual a conhecemos.

Philippa Wiggins, pesquisadora australiana, estudou a água por mais de 40 anos, e descobriu que no intracelular dos mamíferos coexistem dois tipos de água líquida. Eis algumas diferenças entre elas: vamos chamá-las de água tipo A e água tipo B.

Água tipo A (desestruturada): com alta densidade, com pontes de hidrogênio fracas, ativa e fluída. É uma água sem estrutura, com “clusters” pequenos, com o “n” da fórmula (H2O)n muito baixo. É a água predominante nas células em “proliferação”. Densidade: 1,18 g/ml.

Água tipo B (estruturada): com baixa densidade, com pontes de hidrogênio fortes, inativa e viscosa. É uma água estruturada, com “clusters” maiores, com o “n” do (H2O)n elevado. É a água predominante nas células em estado “quiescente", sem proliferação. Densidade: 0,91 g/ml.

No ciclo de vida celular, o estado “quiescente” se caracteriza pela ausência de proliferação celular. A célula fica em “repouso” reprodutivo, em pleno gozo de suas atividades funcionais, já que são células diferenciadas, apenas não estando em atividade mutiplicativa. Durante toda a nossa existência, ocorrem variações no estado da água do tipo fluída para a do tipo viscosa e vice-versa, com grande repercussão na saúde e nas doenças do organismo. Esse tema, retornaremos no próximo artigo. Aguarde!

* Médico Clínico/Nutrólogo/Biomolecular (tel 32352908)

* Mestre/ Professor de Bioquímica da UFMA

* joselindoso@tvn.com.br

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