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| Emanoel Viana e Dra. Lucia Fernanda em festa de aniversário de casamento, o ultimo vivos |
Pois é, hoje resolvi conversar comigo mesmo, ensinamento do
psiquiatra Alfredo Luis, que dizia para escrever tudo e colocar na gaveta. Pois
bem, fico a imaginar o porque de minha morte diária, após a morte física de
minha mulher Lucia Fernanda.
Todo
dia tem pressão alta, pedras nos rins, xisto nos rins, xisto no fígado, gama
gt, pneumonia, tremedeira, caganeira, cansaço, dores musculares, tosse,
refluxo, tudo enfim que ela teve durante esses anos, eu tenho. Os exames
comprovam alguns itens, os outros desmentem.
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| Emanoel Viana e Professora Lucia Fernanda |
Os
especialistas consultados dizem que o organismo está de acordo com a idade.
Outros acham que procuro uma causa ou motivo para adoecer e morrer. Outros
acham que devia viver, esquecer tudo e começar de novo.
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| Dra. Lucia Fernanda |
Eu
acho que é remorso. Analisei desde o namoro em 12.06.1970 até a nossa separação
física em 30.07.2019. Revi a namoro na Praça da Alegria, do noivado confuso, do
casamento na Igreja da Conceição no carro do padrinho José Maria Martins. O
acidente na estrada BR 135 que quase morríamos no dia do casamento, mas só
descemos o barranco. Do apartamento no Caiçara, da demora da gravidez do Alex,
da casa na Rua dos Afogados, depois na 13 de Maio, da gravidez de Fernanda, do
nascimento dos filhos. Da compra da casa no Maranhão Novo.
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| Dra. Lucia Fernanda Bastos Viana |
Da
vida agitada tua, de minha vida de bancário,3 empregos, segundo curso, enfim,
tudo vem à memória. Do meu comportamento sempre me sentindo humilhado perante
Doutora Lucia, e minhas fugas com as mulheres para compensar. Das nossas
separações, dos momentos de reconciliação, da compra do apartamento nos
Vinhais, da venda do apartamento. Da candidatura, de tua ajuda nas eleições, do
engajamento político, da trilha juntos.
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| Emanoel Viana e Dra. Lucia Fernanda |
Os
momentos de bonanza que nunca podemos usufruir bem. E acho que a magooei muito
com a infidelidade latente que sempre me acompanhou a vida inteira.
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| Dra. Lucia Fernanda no último Baile das Fofinhas |
Hoje,
ao analisar o remorso, procurei uma forma de tentar dizer que não era isso. E
lembro de todos os momentos que estive ao teu lado, da primeira vez que
adoesceste, estive contigo no Rio, com Paulo Niemeyer, na convalescência, da
recuperação. Nos momentos difíceis da Familia Bastos, estive lá em todos.
Ajudando, confortando e abraçando.
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| Lucia Fernanda fazendo escova |
Talvez
tenha negligenciado na última doença. Do câncer, estive nos hospitais,
participei das cirurgias, mas estive afastado na convalencencia, não fui o
companheiro devido e não soube entender a doença como social.
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| Dra. Lucia Fernanda em sua casa no Quinta do Calhau |
Compensei
depois quando do agravamento e fiquei contigo, quase o tempo integral, nos
últimos 2 anos. Foi pouco, devia ter fechado o escritório e contratado
Enfermeiras, como Cuidadoras, há mais tempo, errei feio.
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| Emanoel e Lucia |
Dois
erros que hoje tento compensar com minhas doenças e meu estado de espírito,
social, etc..... enfim, do estágio que estou no momento atual.
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| |Emanoel e Lucia |
Estou
chegando à conclusão que só se vive uma vez, não tenho que me preocupar com o
futuro dos filhos, eles que vendam o patrimônio e eles que deviam ter os patrimônios
próprios como fizeste, com teu emprego no Rosa Castro e demais no dia a dia,
plantões, universidade, sacil, departamento de patologia, materno infantil,
sociedade, academia etc...
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| Emanoel Viana e Dra. Lucia Fernanda |
Acho
que os filhos não tem o mesmo amor que a gente tem popr eles, a mesma renuncia,
a mesma preocupação. Acho que eles nos consideram como importantes mas que a
morte pode nos levar que tudo permanece igual. Foi assim contigo. E vai ser
assim comigo.
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| Emanoel e Lucia |
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| Emanoel e Lucia Fernanda, em casa |
Estou
triste, revoltado, magoado com a vida. Não estou conformado com tua morte, mas
aceito, apesar de reclamar sempre para o meu Deus. E queria estar contigo todos
os dias, todos os sábados pelo menos, como vinha fazendo, mas o medo da
pandemia e a alegação que morreu pois ia ao cemitério e não ficou em casa,
fazem com que eu fique em casa, até a vacina ser injetado do meu velho corpo,
se vivo estiver.
Vou
tentar viver um pouco mais a vida, pensar em ti, esquecer um pouco o futuro e
filhos. Eles vão mandar desligar as máquinas no hospital ou me enterrar, mas ai
eu não estarei mais aqui.
Fiz
um desabafo.
Será
que vou me sentir bem?
Acho
que chegaremos ao 50 anos no dia 30.06.2020, aí irei até você no cemitério, te
visitar. Ainda não é para ficar. Se fosse recado, teria a carinha risonha ou os
kkk aqui.
Beijos,
Amor.
Em 27.06.2020
