quarta-feira, 1 de novembro de 2023

A PASSAGEIRA VIDA ou A VIDA PASSAGEIRA?

 


Ou a vida, roda

Dois motoristas, um velho ou idoso e outro jovem. Foram designados ao mesmo ônibus, daqueles antigos, onde existia catraca, e, às vezes sem cobrador ou com o cobrador amigo do motorista, carne e unha, sempre designados para o mesmo veículo.

O jovem reclama de tudo, do assento, da velocidade, das paradas, do fato de o motorista parar fora do ponto para gestantes e idosos, ter paciência com o cego ou deficiente visual para subir e descer do ônibus.

O jovem diz que se a paradas, estudadas pelos dirigentes, tem que ser obedecidas e que o motorista idoso estava cometendo infrações. Se o ônibus não tinha aquele negócio de subir e descer (elevador para deficientes) dizia o jovem, então que o aleijado reclame para quem de direito.



Não estava certo, dizer ao cobrador deixar de cobrar para quem chegou perto do ouvido do motorista e pediu para pagar depois. Aqui é não é seu, todos tem que pagar, apesar de o motorista dizer que, depois quando recebia, rodava a catraca novamente e efetuava o reembolso ao proprietário.

E assim foi o dia todo, o mês todo, o ano todo, até que o motorista idoso morreu.

Mas, nas últimas viagens pelas ruas tão conhecidas, disse o motorista idoso. Jovem, eu conheço todas as paradas, todas as ruas, todos os sinais, todos os buracos. Às vezes, os passageiros (daí o nome) mudam, mas sempre são os mesmos.

Salvo aqueles que morrem.

Tem a Dona Impetuosidade, tem a Dona Coragem, tem a jovem Rebeldia, tem o jovem criminoso, tem a Dona Esperança, tem a Dona Saudade, tem o Senhor Conformismo, tem o Senhor Revoltado, tem Dona Saudade, Dona Lembrança, tem tudo aqui, são fases da vida. Já vi todo tipo de gente, Dona Depressão, Senhor Suicídio (que mandei descer do ônibus), e vi várias vezes Dona Morte, o Senhor Destino.

Acostume-se com a vida, com os passageiros, com as paradas, com os buracos, com os sinais, com os acidentes, enfim a gente faz o que pode, com o se tem e não o que se quer, se o ônibus está velho, com pneus carecas, tenho que evitar os buracos, o aquecimento. Se o motor não tem velocidade, vamos devagar.

Enfim, é a vida.






E, depois de morto, o jovem passou a ser o titular agora maduro. Ficou só, até que um dia ao começar o expediente, chegou um menino e disse para ele: e aí coroa, sou teu novo parceiro na lataria ....

Será que a vida recomeça, tudo recomeça? Ou haverá novos ônibus, novos motoristas, novos pensamentos, novas ruas, novas regras, novas leis e o motorista velho tem que se adaptar aos novos tempos?

Final de pensamento, com frase de caminhão: tudo na vida é passageiro, menos o cobrador e o motorista. Agora nem cobrador tem mais ....

Em 01.11.2023