Ou a vida, roda
Dois motoristas, um velho
ou idoso e outro jovem. Foram designados ao mesmo ônibus, daqueles antigos,
onde existia catraca, e, às vezes sem cobrador ou com o cobrador amigo do
motorista, carne e unha, sempre designados para o mesmo veículo.
O jovem reclama de tudo,
do assento, da velocidade, das paradas, do fato de o motorista parar fora do
ponto para gestantes e idosos, ter paciência com o cego ou deficiente visual para
subir e descer do ônibus.
O jovem diz que se a
paradas, estudadas pelos dirigentes, tem que ser obedecidas e que o motorista
idoso estava cometendo infrações. Se o ônibus não tinha aquele negócio de subir
e descer (elevador para deficientes) dizia o jovem, então que o aleijado
reclame para quem de direito.
Não estava certo, dizer
ao cobrador deixar de cobrar para quem chegou perto do ouvido do motorista e
pediu para pagar depois. Aqui é não é seu, todos tem que pagar, apesar de o
motorista dizer que, depois quando recebia, rodava a catraca novamente e
efetuava o reembolso ao proprietário.
E assim foi o dia todo, o
mês todo, o ano todo, até que o motorista idoso morreu.
Mas, nas últimas viagens
pelas ruas tão conhecidas, disse o motorista idoso. Jovem, eu conheço todas as
paradas, todas as ruas, todos os sinais, todos os buracos. Às vezes, os
passageiros (daí o nome) mudam, mas sempre são os mesmos.
Salvo aqueles que morrem.
Tem a Dona Impetuosidade,
tem a Dona Coragem, tem a jovem Rebeldia, tem o jovem criminoso, tem a Dona
Esperança, tem a Dona Saudade, tem o Senhor Conformismo, tem o Senhor
Revoltado, tem Dona Saudade, Dona Lembrança, tem tudo aqui, são fases da vida.
Já vi todo tipo de gente, Dona Depressão, Senhor Suicídio (que mandei descer do
ônibus), e vi várias vezes Dona Morte, o Senhor Destino.
Acostume-se com a vida,
com os passageiros, com as paradas, com os buracos, com os sinais, com os
acidentes, enfim a gente faz o que pode, com o se tem e não o que se quer, se o
ônibus está velho, com pneus carecas, tenho que evitar os buracos, o
aquecimento. Se o motor não tem velocidade, vamos devagar.
Enfim, é a vida.
E, depois de morto, o
jovem passou a ser o titular agora maduro. Ficou só, até que um dia ao começar
o expediente, chegou um menino e disse para ele: e aí coroa, sou teu novo parceiro
na lataria ....
Será que a vida recomeça,
tudo recomeça? Ou haverá novos ônibus, novos motoristas, novos pensamentos,
novas ruas, novas regras, novas leis e o motorista velho tem que se adaptar aos
novos tempos?
Final de pensamento, com
frase de caminhão: tudo na vida é passageiro, menos o cobrador e o motorista.
Agora nem cobrador tem mais ....
Em 01.11.2023
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