Tenho um irmão, o Deque,
o mais velho do segundo matrimônio de meu Pai, ou melhor dizendo, o Irmão mais
velho dos meus Pais, Manoel e Teresa. Oficialmente, Melquisedeque de Castro
Viana, maranhense, nascido em Vargem Grande mas criado em Flores, depois Timon,
hoje em Teresina, onde constituiu família. Casado com Amparo Carvalho tem três
filhos, todos Advogados, o Ricardo, a Karina e a Ana Teresa. Estes, por sua
vez, já casaram e tem suas famílias.
Deque gosta de inovar, estudou Japonês, Italiano,
construiu pirâmides, lê de tudo. É contador, professor, procurador e escritor,
além de poeta. Seu forte é escrever, narrar. No verbal é muito bom como
professor, apesar de não ter paciência com os menos dotados. Ah... e gosta de
cantar.. mas não estou a traçar o perfil do mano, seria apenas uma referência
que, tempos idos, no começo de seus escritos, escreveu um poema ou conto, sobre
sapatos velhos. Marcou-me e hoje o copio.
Tenho eu três pares de sapatos. Durante toda a
minha vida, daria um sapato para cada 20 anos, se dividíssemos a minha idade em
três.
O primeiro par de sapato já está velhinho,
coitado. Já rasgado, frouxo, desgastado no solado, com riscos no couro, de
preto já aparece os brancos dos riscos. Macio, suave, mas ainda hoje não se
adaptou ou meus pés não se adaptaram a eles, de quando em vez tem uma
vermelhidão, embora não cause mais calos e nem meus pés o estufem. Gosto dele,
uso em todo lugar, em casa, nas compras, no shopping, nos aniversários, nas
reuniões sociais. Acompanha-me no social e trabalho, nos dois extremos.
O segundo par de sapato é intermediário. Bem
confortável, os meus pés parecem flutuar, couro firme, sem quebradiços, bico
redondo, solado de borracha, antiderrapante. Uso só fora de casa, geralmente
nos encontros informais, de quando em vez, nos formais. O ruim é que exige
meias, exige que amarre o cadarço e é preciso passar sempre a escova para
brilhar.
O terceiro par de sapato é mais moderno,
moderníssimo até. Dispensa graxa, dispensa cadarço, já vem com forração que
substituiu a meia e é de verniz, tem sempre um brilho. Muito bom, é
aparentemente bico fino, mas quando se introduz os pés se nota que tem uma
palmilha adaptável, os pés não fazem calos e nem estufo o couro.Serve para
tudo, embora eu fique com vergonha de usá-lo no dia a dia, nas compras, nas atividades informais. O sapato parece pedir
ocasiões especiais, sempre formais e fechadas.
Na vida da gente a gente não dá valor aquilo que
está aos nossos pés, os sapatos. Ou aos chapéus. Tenho também três chapéus na
mesma situação, só que ao invés dos pés, seria a cabeça, porém em homenagem ao
meu Irmão Deque, resolvi usar como tese, os sapatos.
Use bem os chapéus, use bem os sapatos.
Eu, hoje, careca, não preciso de chapéus... e
quanto a sapatos, prefiro ficar descalço ... pelo menos durante algum tempo
pois a sociedade e o corpo pedem que a gente use um ou outro, dependendo do tempo,
das circunstâncias e situações.
Qual o teu chapéu?
Qual o teu sapato?
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