sábado, 7 de janeiro de 2012

AFRO-DESCENDENTE, QUE É ISTO?



AFRO-DESCENDENTE, O QUE É ISTO?

Francisco Miguel de Moura*
O título é um preciosismo da gíria política atual, entre outros cujas intenções podem ser boas, mas os resultados são quase sempre desastrosos. De leis casuísticas e corporativistas estamos cheios. A nossa lei maior, a Constituição Federal, em seu artigo 3º, item IV (“Dos Princípios Fundamentais”), reza que constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, entre outros, o de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

Afro-descendente é um arranjo lingüístico não só politicamente incorreto e inoportuno. Primeiro, a grande maioria dos brasileiros têm sangue negro, indígena ou lusitano, quando não dois deles ou os três juntos. Segundo, nós somos humanos, logo todos afro-descendentes, daí o pleonasmo. Mesmo que o termo fosse correto e não intencionalmente racista. Na África, segundo as pesquisas arqueológicas mais avançadas e os trabalhos dos cientistas da história paleontológica humana, foi onde o hominídeo se transformou em homo sapiens. Registro-o porque detesto preciosismos políticos ou não. A verdade deve ser dita com palavras da realidade objetiva e não com maneirismos e formas enganosas. Preciosismo só em ficção, em poesia, literatura. E olhe lá! Com moderação. Não se encobre a realidade com palavras, principalmente a social. Para que dizer “todos e todas” a torto e a direito? Não seria uma forma maneirosa de discriminar? Em nossa língua quando se diz todos já fica incluído o todas. Essa gente quer é inventar novidades. Daqui a pouco estão dizendo: “Graças a Deus e a Deusa”.

Outro preciosismo, este já antiquado e vindo da classe mais elevada, é dizer senhores e senhoras, principalmente, quando proclama: “Meus senhores, minhas senhoras (com o o fechado), na abertura de um discurso. 

O Brasil não precisa de lei de quotas para os negros entrarem na universidade. É discriminação contra os demais. E quem é negro, no Brasil? Somos mulatos, curibocas, caboclos, genericamente todos morenos. Foi recente e parou na capa da revista “Veja” o caso de dois irmãos gêmeos univitelinos que foram discriminados pela lei das quotas: um foi considerado negro, o outro, branco.

Na onda destas discriminações, aqui em nossa capital, aconteceu um fato de certa forma degradante. O colégio “Domingos Jorge Velho”, na Avenida Miguel Rosa, foi transformado em espaço para memória da raça negra com a consagração ao Zumbi dos Palmares. É claro que o Zumbi merece homenagens, que poderia ser em outra parte da cidade. O que se lamenta é que, para homenageá-lo, os exageros da política atual fizeram com que o governante cometesse o erro: a obliteração de outra parte da história, que é a mesma, a que foi escrita há muito tempo sobre a vida e a obra do bandeirante Domingos Jorge Velho. Apagar o passado, a história, é impossível. Que brincadeira de mau gosto é esta? Que ódio é este contra quem não pode mais defender-se, mas, bem ou mal, construiu, deu um rumo à nossa colonização?
Não precisamos de atos discriminatórios, de leis casuísticas ou de revanche contra quem quer que seja, contra quaisquer fatos. O Brasil e os brasileiros precisam é ter vergonha, tanto os de cima quanto os de baixo, tanto eles quanto nós do meio. Honestidade, respeito, estudo, seriedade, mesmo brincando como é da índole do nosso povo. Por que não se criam mais e melhores escolas em vez de mais presídios? As cadeias que se transformem em escolas, obrigação, trabalho. Ser branco, amarelo, negro, isto não tem a menor importância. O povo brasileiro é bom de ser educado, e para ser educado é preciso não passar fome, ser saudável e ter uma ocupação dignamente recompensada. São essas coisas que fazem a dignidade do homem.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, PI.

Opinião:

Antes, este artigo já fora publicado no jornal “Diário do Povo” ( 07/09/2007). 
Hoje, dia em que saiu no jornal “O DIA” ( 24/11/2007), Teresina, PI, recebi um bilhete do Des. Thomaz Gomes Campelo, com os seguintes dizeres:

“Meu Caro Acadêmico
Francisco Miguel de Moura,

Parabenizo o amigo acadêmico pelo artigo hoje publicado, nele está o meu pensamento.
Teresina, Pi, 24.nov.2007
Thomaz Campelo.”

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