segunda-feira, 10 de outubro de 2011

AS ÁRVORES E EU





Moro bem, moro perto da praia e, hoje, perto de tudo. Pista de escoamento de alta velocidade, restaurantes, padaria, cartório, correios, shopping mirim, lojas, tudo, até Igrejas.

                    A casa é de madeira – kit de madeira, junto à Lei – porém me satisfaz, parece uma mini fazenda, embora pene com os cupins. Terreno todo arborizado, tenho côco dágua, caramboleira, manga rosa e comum, siriguela, ata (morreu), cajueiro (cortaram), juçara está crescendo (o pé antigo foi cortado), bananeiras enfim, uma fazendinha. Até rede – de tucum  não – tenho com o barulho do armador. Uma maravilha.

                    Nos últimos meses, pressionado a vender a casa e comprar um apartamento, por motivo de segurança e por falta de dinheiro para remédios e outras coisas, bem como não conseguir nenhum emprego de assessoria – aquele que a gente aparece lá em vez em quando – bem remunerado no governo, na assembléia, no ministério público, no tribunal ou em qualquer lugar, fico aguando plantas. Aumentou o consumo de energia, mas o dinheiro ainda dá para cobrir os gastos.

                    Á tarde, quente, visto o calção e foi dar banho nas plantas, nas árvores, todas plantadas por mim ou pela minha mulher, ou seja, todos foram geradas e criadas aqui. Umas mudinhas que se tornaram árvores. Cresceram e eu acompanhei o processo evolutivo.


                    Algumas morreram logo, não vingaram. Outras, pareciam mortas e fracas, hoje são as maiores, como as mangueiras. Tiveram os filhos, alguns a gente deixou, outros tiveram que ser arrancados pois não haveria espaço para todos. Filhos que cresceram em outros lugares, uns retos que nem os pais, outros tortos que nem eles, quase sempre repetem o tronco maior. Um exemplo foi o cajazinho ou siriguela, ficou igualzinho o pé mãe/pai, com a mesma configuração.


                    Árvores que cresceram e deram frutos, outros cresceram sem dar frutos, mais davam sombra e a gente tinha orgulho de dizer: tenho um cajueiro em minha casa. Tem aquelas árvores que deram muitos frutos e morreram, como a Ata e o Goiabeira – esqueci de nominar nas plantas existentes – esta última anda meio fraquinha, com pouca produção e com o tronco descascando.

                    Umas ficaram doentes....coitadas e, em que pese a gente ter condições de pagar, não conhecemos ou não existe médico de árvores (agrônomos) capazes de combater os males. A Ateira morreu, a Goiabeira não está bem, uma das Mangueiras está cheia de cupins e o Pau Brasil está com o tronco soltando as lascas. A gente faz o que pode, coloca vitaminas, aumenta o fluxo de água, limpa os troncos, mata os cupins mas parece que o tempo é inexorável. As árvores também morrem de velhice.
                    Há um prazer indescritível quando a gente saboreia os seus frutos, a manga de minha mangueira, a juçara de minha juçareira, a carambola de minha caramboleira, a banana de minha bananeira, a goiaba de minha goiabeira, o côco de meu coqueiro... tudo fresco, tirado na hora, conversando com as árvores e elogiando a produção. É certo que a gente está comendo os seus filhos(frutos) mas, nesta hora a gente encara as árvores como um artesão que preparou o objeto de consumo.



                    É bom, quando se pensa que as árvores são somente árvores, porém quando se pensa que elas podem ser um organismo vivo, dói.... e aí a gente não comeria seus frutos... no mais, continuaríamos como sempre, embora dói, também, quando se é obrigado a cortá-las em razão de alguma coisa grave ou pela iminência de morte.

                            E você com isso?


                    Nada... é que fico pensando que, como as árvores, a gente... o ser humano, tem também os seus mesmos momentos. Nasce, cresce, tem filhos, morre... portanto, é preciso aproveitar o tempo da primavera, o tempo da renovação das folhas, do verde total.... é preciso dar bons frutos, bons filhotes (ao lado sempre crescem novas árvores)... é preciso ter saúde para não ser cortado, é preciso não invadir o espaço dos outros, é preciso crescer alto e forte e reto para permanecer no quintal da vida.




                    É isso aí, sou uma árvore no fim da vida....

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