Velho esquece das coisas,
não tem mais roteiro, confunde tudo, mistura meio com fim, não une as pontas.
Vou tentar contar a história, descrever os sentimentos e chorar mágoas.
Lucia Fernanda, minha esposa, em 2008, salvo
engano, submeteu-se à uma cirurgia para retirada de nódulo no seio direito, sob
suspeita de neoplasia grave, ou o popular câncer. Daí para frente, mudou tudo,
passou a restringir suas atividades profissionais, é Médica, e passou a ficar
mais em casa ou se dedicar mais à Familia.
Às vezes só, de teimosa ou por falta de conversa,
entendimento com o marido, eu, ou pensando em economizar para não ter o que
faltar aos filhos Alex e Maria Fernanda, ficou só em casa, e às vezes, sozinha
mesmo, só com a empregada. Nos pequenos afazeres que podia, conversando com
vizinho do restaurante e sabendo que havia perdido à pouco tempo o último de
nossos filhos, o Tibor, cão, por enfarte, ofereceu Senhor Eugênio, daí por
diante chamado por nós Pai do Louro, um papagaio.
Não sei se por gentileza, por curiosidade ou para
suprir falta, aceitou. Veio um animal com cabeça grande, sem penas, recém saído
do ovo. Feio para chuchu. Ela o criou, deu alimentos, mamadeira e ele foi
crescendo. Batizado de José Henrique, acho que em homenagem ao Cunhado ou Tio,
se foi por Lucia ou Fernanda, esta a filha, pegou. Ficava com Lucia, às manhãs,
no seio esquerdo, como bebê. Depois passou a almoçar conosco, deixávamos
bebicar arroz, nunca carne ou similar.
Foi crescendo e só. Aí disseram que os papagaios
são monogâmicos e necessitam de companhia. Fizemos uma operação ilegal,
compramos uma papagaia de um dono de bar que havia cortado as asas e queria as
matar. Desgraçado. Veio então a Maria Rosa. E passou-se a viver com os dois.
Cantavam, brincavam, mordiam, bicavam.... a Lucia ainda chegou a ensinar a
Maria Rosa o currupaco papaco... o Louro só aprendeu a rosnar tipo cachorro. E
bicava de quem não gostava, tirava voos rasantes e sabia voar.
Continua o crescimento e o apego. Em um dia de chuva,
somente a Rosinha está no quintal – os nossos filhos eram criados livres, sem correias,
amarras – e o Louro havia sumido. Um Deus nos acuda, procura no vizinho,
procura na rua, pergunta para todos, ninguém viu ... se estivesse morto a gente
haveria de encontrar.. pode ter sido o gavião .. é, mais nãoa tinha penas ..
enfim, mistério. Depois de um dia de tristeza, Lucia Fernanda inconformada,
pego fotos do Louro e vou para as redações de jornais e fui para a TV Cidade,
pedi espaço ao meu Amigo Marco Antonio Vieira da Silva que autorizou entrar ao
vivo no Balanço Geral, audiência lá encima e já apresentado pelo atual Sérgio
Murilo. Ofereci 1 mil reais para quem o devolvesse e certa quantia pela
informação certa. Telefonemas mil, mas um pareceu real, depois do Parque
Vitória, fui, encontrei com o Louro que rosnou e vou para meu ombro, graças a
Deus. Paguei sem perguntar se foi roubo, sequestro, achado... agradeço até hoje
ao cidadão que nem sequer sei o nome.
Vidas nova, daí por diante, não pode tirar o olho
dos filhos, de manhã, tarde e noite.
Lucia Fernanda, infelizmente, no ano de 2019, no
dia 30 de julho de 2021, sem poder se despedir do Louro ou da Rosa, foi ao
encontro de Deus. Ficamos só. Louro e Rosa sentiram, a gente notava, até agora,
no dia 16 de julho der 2021, de quando em vez, o Louro ou a Rosa estavam na
cadeira de balanço de Lucia, que permanece no mesmo lugar. Louro, às vezes, ia
no quarto de Lucia.
Nesse período, Louro e Rosa tiveram 10 ovos, 5 de
uma vez, e mais 5 de outra, Lucia soube, mas não viu, infelizmente ou
felizmente, não gerou nenhum, todos os ovos foram prejudicados, apesar de os
colocar em uma espécie de ninho, em um local protegido. Louro ficou chocando o
tempo todo, e Rosa vigiando. Diziam que eu havia errado no sexo, será?
Como tudo se adapta, continuamos a viver. Até o
dia 17 de julho de 2021. Tenho uma espécie de cuidadora de casa, outra de
roupas, e outro de jardim, alternadamente. Neste dia, acordei um pouco tarde,
não foi eu que levei os filhos de casa (dormem em suas casinhas na cozinha) ao
apartamento no quintal, foi uma das duas. Aí, meio dia, ao chegar, olho para as
gaiolas abertas que servem de poleiro e só veja a Rosinha. Pergunto, cadê o
Louro? Era normal, um ou outro se esconder, ou a (s) empregada (s) terem mede
de serem bicadas por um ou outro. A resposta foi uma só, não encontramos ele.
Como Pai, sabendo das manhas, fui procurar. Na
laje, aonde todos os 3 tem acesso, estava o Louro, dormitando, com as perninhas
de lado, fechadas, como se agradecendo a Deus. Sem arranhões, sem penas soltas,
sem, aparentemente nenhuma sequela, salvo se quebraram ou quebrou o pescoço.
Dificil entender a morte dele, só se fizesse exame cadavérico.
Cobra não foi, gavião não foi, queda não podia ser
que ela voava, uma rabada de um camaleão? Também não, estava acostumado ...
alguém foi bicado ou com raiva bateu sem querer na cabeça e quebrou o pescoço e
não quis assumir? Ninguém sabe, ninguém viu.
O sentimento foi o mesmo que quando perdi Lucia
Fernanda. Choque, emoção, choro. Preparamos uma caixinha linda, com flores, eu
e minha filha Fernanda e o enterramos juntos com os demais falecidos aqui de
casa, no quintal. Requiem... que Deus o receba bem, e o coloque no colo, nos
seios de Lucia Fernanda.. fique lá enquanto chego.
Bença Deus?
2 comentários:
Lindo texto!!👏👏
Gostei da prosa ( conversa).
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