segunda-feira, 26 de novembro de 2018

MINHA MÃE TERESA




Teresa Viana pensando
Agora que a Senhora se foi, posso Advogar na área do crime?


Brincadeira, Mãe.

Quando se respeita, se respeita a presença e ausência, sempre. Ou sempre que possível.

Doeu.

Dor que a gente não sabe expressar, nem dizer, mas vou tentar. Quando houve o incidente com  a Francisca, imediatamente falei com Lucia e acertamos que a gente iria buscar a Senhora, tão logo tivesse condições de saúde.

Todo mundo diz, todo mundo sabe, e os fatos provam que o Idoso morre quando é retirado do habitat natural. O habitat estava impróprio para uso humano, aparentemente. Diversas vezes  o tentamos modificar, a Ada conseguiu mudar o piso, eu apenas fiz algumas pequenas ajudas, como conseguir que aceitasse as novas TV, hora ventilador e telefone. O Deque ajudou muito e sempre, apesar de sempre nervoso e a Senhora ficar sempre com medo de ele ter alguma coisa, algum treco.

A Senhora sempre me disse, respeite minha determinação. Quando não puder mais, me leve para a sua casa, junto com Lucia. E me disse, também, quando morrer, me joguem em qualquer lugar, com o Zé Preto, aqui em Timon, mas depois de muita insistência me disse que não queria ficar com o seu marido, o meu Pai, mas sim com a sua Mãe Mariquinha, minha Avó.

Não foi assim.
Rubenita (filha), Mamãe com a filha do filho do Carlos Filho (neto)
Os Irmãos mais velhos, Melquisedeque e Rubenita disseram que a Senhora sabia do local no cemitério em Teresina, há mais de 20 anos. Ficou no Cemitério da Ressureição, em um lugar bem fundo.

Respeitaram a sua vontade em relação à sua mortalha, guardada há mais de 30 anos. E colocaram, ao sepultar, o lenço no rosto. Não foi colocado no Velório, pressão social.
Houve a missa de corpo presente, e sua neta Ana Teresa falou. Bem que queria ter falado, mas Deque e Rube estavam muito emocionados.
Melquisedeque, Mamãe e Eu, Emanoel
Tinha até discurso preparado, acho que vou usar na Missa de Sétimo Dia que vai ser rezada aqui em São Luis. Vou convidar todos, parentes, aderentes, colegas e conhecidos.

Queria ter dito, e digo agora.

A Comendadora Teresa, Professora Leiga Teresa Viana, casou e viveu durante anos com o Rábula, Jornalista, Radialista, Politico, Escritor, Poeta Manoel Viana, Seu Manuca. Fiel, o mais importante, sustentou a Família durante alguns anos enquanto o Papai vivia nos CDI da vida, no Hospital Getúlio Vargas, tentando viver depois de atentado feito por parte inconformada com o ganho da causa pelo Dr. Manoel Viana, na área de família.

Dizem que o Papai tinha uma cruz, na palma da mão, de tantas vezes que recebeu extrema unção no Hospital. Mas, viveu, e viveu bem durante muitos anos.
Faleceu aqui, na presença dos Filhos, no UTI do Hospital Presidente Dutra. Fechamos os olhos dele, Eu, Chico e Ada.

Para quem não sabe, Mamãe foi cozinheira, costureira, macumbeira, enfim, fez todos os serviços para se manter e manter a família. Sem se prostituir. E fez a promessa, no leito do Papai, de deixar de usar roupas, sapatos altos, pintura, ficando apenas com uma sandália e um vestido preto. Fez uma promessa de viver Franciscana, de pobreza. E assim foi durante quase toda a vida.
Mamãe recebendo Nossa Senhora em casa...

Depois, com a liberação da Igreja, usou outros tipos de vestido, mas sempre uma réplica do vestido preto, com alguns tons mais claros, em casa. Na rua, continuou tudo igual.

Levava uma vida regrada, miserável mesmo, pela promessa, por viver só, por não ter tido um filho que se dispusesse a viver com ela, ou pelo fato de não querer ter a liberdade tolhida, não querer perturbar ou dar trabalho para ninguém.

Foi assim, durante anos. Visitas dos filhos de São Luís, de parentes, e da constante e permanente ação do Deque. Depois com a ajuda da Rubenita, para aonde foi depois do surto (?) e, de lá, para o hospital, de onde só saiu morta.

Incompetência médica, organismo debilitado, diagnóstico e tratamento errado, idade avançada, complicações naturais do organismo idoso, ou descanso determinado pelo Ser Superior, a levaram depois de alguns dias no Hospital.

No dia 24.11.2018, foi considerada morta. Fisicamente. E aí, houve o repouso.

Doeu, minha Mãe.

Dói.

O sistema social e familiar envolvem certas atitudes, e a gente, apesar de querer mudar, não pode, se conforma. E a Senhora, como filósofa, dizia: a gente vai o que pode, não o que quer.

Dito e feito.

Levou uma vida miserável, com sua independência e respeito.  Teve o carinho e assistência dos filhos, que poderia ter sido bem melhor, não fosse os impedimentos naturais e familiares, sem contar que havia o respeito pelas suas atitudes. Não queria reforma da casa, não queria luxo, não queria dar trabalho a ninguém, não queria incomodar, e queria o seu lugar.

Teve, sempre o respeito dos Filhos.
Não teve, talvez, uma assistência melhor. Queria que os filhos a tratassem melhor, mas não dizia como. Dizia que queria falar com fulano ou beltrano e não conseguia. Dizia que os filhos não deviam viajar para a visitar pois não tinha nada na Casa e as mulheres ou maridos deviam ter a assistência e que era perigoso a estrada, a viagem.

Respaldamos nisso, de maneira errada. Reconheço. Podia ter ligado todo dia para a Senhora, não de vez em quando, ou quando dava saudades. E a Senhora me dizia: Cacilda me liga toda noite.

Dói, machuca, aperta e não tem volta. O tempo não pára e nem volta.

Dói mas não tanto, quando se referia ao fato de a Tia Maria ser uma felizarda por tinha a Gracinha que se dedicava a Mãe. Gracinha é filha de Tia Maria e vive com ela, desde a morte do meu Tio e Sobrinho Benedito.

Sobrinho? É, mas isso é outra história.

Nós, os filhos, Bed, Emanoel, Chico, Ada, Deque e Rube, nunca pudemos ficar à disposição completa da Senhora, como sugerido no caso Gracinha versus Tia Maria. 

Cada um de nós, afirmo e tiro por mim, fez o melhor que pode. Ajudou no que pode, aliás, só com atitudes, nunca com dinheiro, pois apesar dos pesares, a Senhora nunca pediu um tostão para qualquer dos Filhos.

Pediu a parentes, em tempo idos, e foi negado, para tratar dos filhos. E a Senhora fez igual ao filme, guardou e nunca precisou de parentes.

Valeu, valeu o exemplo e a gente segue. Pelo menos eu tento.

Quero comunicar que vou fazer uma Missa de Sétimo Dia e tentar me desculpar com a Família da Senhora, a Tia Maria e suas Filhas. Todos, o José, o Afonso, o Celso, a Bela, a Luiza, a Cacilda, a Dadá, a Esmeralda, a Graça e a Gracinha. A doença e a morte da Senhora atritou alguns, houve alguns senões que devem ser esquecidos. Lembrados apenas como lembranças, se lembrados.

Acho que só.

Jogue-se flores no túmulo, esqueçam Teresa Alves de Castro Viana, ela não faz mais parte deste mundo. Passou  existir no mundo invisível e no mundo daqueles que gostam dela, a amam, a respeitam.

Ela está aqui, ao meu lado, como sempre esteve. E ficará comigo para sempre. A morte vai nos encontrar. Acredito em outro tipo de vida ou existência, não se justifica uma pessoa sair de sua casa, aos 18 anos, viver com o homem de o dobro da idade, com 12 filhos, parir ou gerar 6 filhos, viajar por cidades, se estabelecer, ter mil e uma atividades, ser rejeitada pelos enteados às vezes, não receber ajuda do cunhado, enfim, ter todo tipo de problema, mas formar, educar os 6 filhos, Rubenita em Direito, Melquisedeque em Direito, Ada em Medicina, Chico em Medicina, Emanoel em Administração, e Bed em Medicina e, ao morrer aos 98 anos,  deixar de existir sem levar o seu acervo espiritual?

Para que valeu a vida?

E o que aprendeu, o que ensinou? Suas ações, suas atividades, suas lembranças, seus amigos, tudo enfim, vai desaparecer na morte?

Não acredito.

Mamãe... eu tive oportunidade de dizer e demonstrar o meu Amor, valeu.. mas que dói, dói

Insuportável? Não... mas difícil, doído, magoado ... mas, agora depois de velho, com compreensão da vida... ao chega a ser conformação, a morte não se justifica, em qualquer situação...

Aqui eu vou de José Regis ... mas a gente não pode declamar, Mamãe não gosta de heresias, apesar de não ser beata, nem de palavrões ou ofensas...

Enfim, era o que tinha a dizer.

A benção Mãe?
Do Emanoelzinho....

Às 22 horas do dia 26.11.2018, na biblioteca da casa aonde ela queria estar quando não pudesse viver na sua casa da Aquiles Lisboa, em Timon.

Um comentário:

rcv2070@hotmail.com disse...

Sai daqui de São Luís num carro sem arcoar-condicionado em tempo de pegar o velório e o enterro pq amava minha avó. E a visitei pq queria estar com ela. Quem ia la so pq não queria que ela ficasse sozinha perdeu seu tempo pq ela gostava de visitas com esse intuito. Ela gostava da companhia que gostava dela e não de visitas de gente chata. E adianto, todos os filhos, netos e bisnetos a amavam do jeitinho que ela era. Não foi mal assistida. Vou TAMBÉM na missa. Se alguém me disser uma gracinha, teresavianamente, mando ir a porra!