Teresa Viana pensando |
Brincadeira, Mãe.
Quando se respeita, se
respeita a presença e ausência, sempre. Ou sempre que possível.
Doeu.
Dor que a gente não
sabe expressar, nem dizer, mas vou tentar. Quando houve o incidente com a Francisca, imediatamente falei com Lucia e
acertamos que a gente iria buscar a Senhora, tão logo tivesse condições de
saúde.
Todo mundo diz, todo
mundo sabe, e os fatos provam que o Idoso morre quando é retirado do habitat natural.
O habitat estava impróprio para uso humano, aparentemente. Diversas vezes o tentamos modificar, a Ada conseguiu mudar o piso, eu apenas fiz algumas
pequenas ajudas, como conseguir que aceitasse as novas TV, hora ventilador e telefone.
O Deque ajudou muito e sempre, apesar de sempre nervoso e a Senhora ficar sempre com
medo de ele ter alguma coisa, algum treco.
A Senhora sempre me
disse, respeite minha determinação. Quando não puder mais, me leve para a sua
casa, junto com Lucia. E me disse, também, quando morrer, me joguem em qualquer
lugar, com o Zé Preto, aqui em Timon, mas depois de muita insistência me disse
que não queria ficar com o seu marido, o meu Pai, mas sim com a sua Mãe
Mariquinha, minha Avó.
Não foi assim.
Rubenita (filha), Mamãe com a filha do filho do Carlos Filho (neto) |
Os Irmãos mais velhos,
Melquisedeque e Rubenita disseram que a Senhora sabia do local no cemitério em
Teresina, há mais de 20 anos. Ficou no Cemitério da Ressureição, em um lugar bem fundo.
Respeitaram a sua
vontade em relação à sua mortalha, guardada há mais de 30 anos. E colocaram, ao
sepultar, o lenço no rosto. Não foi colocado no Velório, pressão social.
Houve a missa de corpo
presente, e sua neta Ana Teresa falou. Bem que queria ter falado, mas Deque e
Rube estavam muito emocionados.
Melquisedeque, Mamãe e Eu, Emanoel |
Tinha até discurso
preparado, acho que vou usar na Missa de Sétimo Dia que vai ser rezada aqui em
São Luis. Vou convidar todos, parentes, aderentes, colegas e conhecidos.
Queria ter dito, e digo
agora.
A Comendadora Teresa,
Professora Leiga Teresa Viana, casou e viveu durante anos com o Rábula,
Jornalista, Radialista, Politico, Escritor, Poeta Manoel Viana, Seu Manuca.
Fiel, o mais importante, sustentou a Família durante alguns anos enquanto o
Papai vivia nos CDI da vida, no Hospital Getúlio Vargas, tentando viver depois
de atentado feito por parte inconformada com o ganho da causa pelo Dr. Manoel
Viana, na área de família.
Dizem que o Papai tinha
uma cruz, na palma da mão, de tantas vezes que recebeu extrema unção no
Hospital. Mas, viveu, e viveu bem durante muitos anos.
Faleceu aqui, na
presença dos Filhos, no UTI do Hospital Presidente Dutra. Fechamos os olhos
dele, Eu, Chico e Ada.
Para quem não sabe,
Mamãe foi cozinheira, costureira, macumbeira, enfim, fez todos os serviços para
se manter e manter a família. Sem se prostituir. E fez a promessa, no leito do
Papai, de deixar de usar roupas, sapatos altos, pintura, ficando apenas com uma
sandália e um vestido preto. Fez uma promessa de viver Franciscana, de pobreza. E assim foi durante quase toda a vida.
Mamãe recebendo Nossa Senhora em casa... |
Depois, com a liberação
da Igreja, usou outros tipos de vestido, mas sempre uma réplica do vestido
preto, com alguns tons mais claros, em casa. Na rua, continuou tudo igual.
Levava uma vida
regrada, miserável mesmo, pela promessa, por viver só, por não ter tido um
filho que se dispusesse a viver com ela, ou pelo fato de não querer ter a
liberdade tolhida, não querer perturbar ou dar trabalho para ninguém.
Foi assim, durante
anos. Visitas dos filhos de São Luís, de parentes, e da constante e permanente
ação do Deque. Depois com a ajuda da Rubenita, para aonde foi depois do surto
(?) e, de lá, para o hospital, de onde só saiu morta.
Incompetência médica,
organismo debilitado, diagnóstico e tratamento errado, idade avançada,
complicações naturais do organismo idoso, ou descanso determinado pelo Ser
Superior, a levaram depois de alguns dias no Hospital.
No dia 24.11.2018, foi
considerada morta. Fisicamente. E aí, houve o repouso.
Doeu, minha Mãe.
Dói.
O sistema social e
familiar envolvem certas atitudes, e a gente, apesar de querer mudar, não pode,
se conforma. E a Senhora, como filósofa, dizia: a gente vai o que pode, não o
que quer.
Dito e feito.
Levou uma vida
miserável, com sua independência e respeito.
Teve o carinho e assistência dos filhos, que poderia ter sido bem
melhor, não fosse os impedimentos naturais e familiares, sem contar que havia o
respeito pelas suas atitudes. Não queria reforma da casa, não queria luxo, não
queria dar trabalho a ninguém, não queria incomodar, e queria o seu lugar.
Teve, sempre o respeito
dos Filhos.
Não teve, talvez, uma
assistência melhor. Queria que os filhos a tratassem melhor, mas não dizia como.
Dizia que queria falar com fulano ou beltrano e não conseguia. Dizia que os
filhos não deviam viajar para a visitar pois não tinha nada na Casa e as
mulheres ou maridos deviam ter a assistência e que era perigoso a estrada, a
viagem.
Respaldamos nisso, de
maneira errada. Reconheço. Podia ter ligado todo dia para a Senhora, não de vez
em quando, ou quando dava saudades. E a Senhora me dizia: Cacilda me liga toda
noite.
Dói, machuca, aperta e
não tem volta. O tempo não pára e nem volta.
Dói mas não tanto,
quando se referia ao fato de a Tia Maria ser uma felizarda por tinha a Gracinha
que se dedicava a Mãe. Gracinha é filha de Tia Maria e vive com ela, desde a
morte do meu Tio e Sobrinho Benedito.
Sobrinho? É, mas isso é
outra história.
Nós, os filhos, Bed,
Emanoel, Chico, Ada, Deque e Rube, nunca pudemos ficar à disposição completa da
Senhora, como sugerido no caso Gracinha versus Tia Maria.
Cada um de nós,
afirmo e tiro por mim, fez o melhor que pode. Ajudou no que pode, aliás, só com
atitudes, nunca com dinheiro, pois apesar dos pesares, a Senhora nunca pediu um
tostão para qualquer dos Filhos.
Pediu a parentes, em
tempo idos, e foi negado, para tratar dos filhos. E a Senhora fez igual ao
filme, guardou e nunca precisou de parentes.
Valeu, valeu o exemplo e
a gente segue. Pelo menos eu tento.
Quero comunicar que vou
fazer uma Missa de Sétimo Dia e tentar me desculpar com a Família da Senhora, a
Tia Maria e suas Filhas. Todos, o José, o Afonso, o Celso, a Bela, a Luiza, a
Cacilda, a Dadá, a Esmeralda, a Graça e a Gracinha. A doença e a morte da
Senhora atritou alguns, houve alguns senões que devem ser esquecidos. Lembrados
apenas como lembranças, se lembrados.
Acho que só.
Jogue-se flores no
túmulo, esqueçam Teresa Alves de Castro Viana, ela não faz mais parte deste
mundo. Passou existir no mundo invisível
e no mundo daqueles que gostam dela, a amam, a respeitam.
Ela está aqui, ao meu
lado, como sempre esteve. E ficará comigo para sempre. A morte vai nos
encontrar. Acredito em outro tipo de vida ou existência, não se justifica uma
pessoa sair de sua casa, aos 18 anos, viver com o homem de o dobro da idade,
com 12 filhos, parir ou gerar 6 filhos, viajar por cidades, se estabelecer, ter
mil e uma atividades, ser rejeitada pelos enteados às vezes, não receber ajuda
do cunhado, enfim, ter todo tipo de problema, mas formar, educar os 6 filhos,
Rubenita em Direito, Melquisedeque em Direito, Ada em Medicina, Chico em
Medicina, Emanoel em Administração, e Bed em Medicina e, ao morrer aos 98 anos, deixar de existir sem levar o seu acervo
espiritual?
Para que valeu a vida?
E o que aprendeu, o que
ensinou? Suas ações, suas atividades, suas lembranças, seus amigos, tudo enfim,
vai desaparecer na morte?
Não acredito.
Mamãe... eu tive
oportunidade de dizer e demonstrar o meu Amor, valeu.. mas que dói, dói
Insuportável? Não...
mas difícil, doído, magoado ... mas, agora depois de velho, com compreensão da
vida... ao chega a ser conformação, a morte não se justifica, em qualquer
situação...
Aqui eu vou de José
Regis ... mas a gente não pode declamar, Mamãe não gosta de heresias, apesar de
não ser beata, nem de palavrões ou ofensas...
Enfim, era o que tinha
a dizer.
A benção Mãe?
Do Emanoelzinho....
Às 22 horas do dia
26.11.2018, na biblioteca da casa aonde ela queria estar quando não pudesse viver
na sua casa da Aquiles Lisboa, em Timon.
Um comentário:
Sai daqui de São Luís num carro sem arcoar-condicionado em tempo de pegar o velório e o enterro pq amava minha avó. E a visitei pq queria estar com ela. Quem ia la so pq não queria que ela ficasse sozinha perdeu seu tempo pq ela gostava de visitas com esse intuito. Ela gostava da companhia que gostava dela e não de visitas de gente chata. E adianto, todos os filhos, netos e bisnetos a amavam do jeitinho que ela era. Não foi mal assistida. Vou TAMBÉM na missa. Se alguém me disser uma gracinha, teresavianamente, mando ir a porra!
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